sexta-feira, fevereiro 18, 2005

a letra que não é o A

(...)
compreendi o medo, muito perto do terror. conheci o sofrimento de repente, como se descobrisse um homem suspenso, imóvel, perdido e imóvel dentro de ser só o sofrimento e o mundo. poucos momentos no céu e tudo sem sentido. o medo e o sofrimento como um gesto desse mundo de sonhos esquecidos e de rostos inúteis. compreendi que no sofrimento existe um espelho com todo o tempo, um espelho que é concreto e invisível. tudo é concreto e invisível: dentro de mim e longe de mim. longe do toque dos meus dedos e longe do meu peito. compreendi que o fumo e o vento existem dentro do sofrimento. quem conhece o fumo e o vento conhece o respeito pelo terror. o medo existe dentro do terror, muito perto do terror, como os homens existem muito perto de perder tudo. o medo, muito perto do terror, é um silêncio de homens e de mulheres que existe no momento em que todos, homens e mulheres, percebem que existem muito perto de perder tudo. dor e sofrimento nos olhos. conheci o sofrimento de repente e foi muito cedo. o medo como um crepúsculo de nuvens. o medo incrível e impossível. o medo entre muros de medo. o medo é um segredo que só o silêncio de um rosto conhece. o medo entre muros de medo. mulheres e homens, todos sozinhos, suspensos e imóveis num segredo único: o medo muito perto do terror.
(...)

José Luís Peixoto, em "Uma Casa na Escuridão", escreveu o parágrafo acima transcrito sem nunca usar a letra A.

talvez não fosse má ideia fazer desaparecer uma letra do alfabeto.
talvez não ficasse assim tanto por dizer.
talvez nos entendêssemos melhor.
fica a sugestão ;)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Xikanapanaxeka

1:15 da manhã  

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